Eis 5 factos que deve saber sobre a esclerose múltipla (EM):
• A EM é uma doença neurológica, autoimune e inflamatória que acompanha a pessoa ao longo da vida. Apesar do seu impacto na saúde e qualidade de vida, a maior parte das pessoas não morre diretamente da doença;
• A origem da EM não é ainda totalmente conhecida e não existe ainda uma cura. No entanto, existem várias estratégias para controlar os sintomas ou mesmo para atrasar a progressão da doença;
• Ainda que a EM possa provocar limitações no dia a dia, a maioria das pessoas que vive com a doença não chega a ficar fisicamente incapacitada. Em cerca de 2/3 dos casos, as pessoas mantêm a sua capacidade de andar, ainda que possam necessitar de apoio.
• Cada caso com EM é diferente. Por isso, mesmo que duas pessoas próximas tenham a doença, podem não ter os mesmos sintomas ou senti-los com a mesma intensidade;
• A EM não é contagiosa nem é herdada diretamente dos pais, apesar de se saber que quem tem historial familiar da doença pode ter um risco mais elevado de vir a desenvolver EM.
O sistema imunitário é complexo e tem como função proteger o organismo de infeções, combatendo bactérias, vírus e outros agentes estranhos. Sem que saibamos ao certo porquê, na EM ocorre uma reação do sistema imunitário contra o SNC do próprio organismo (uma reação autoimune).
As células responsáveis por atacar os “agentes estranhos” ao organismo começam a reagir contra o revestimento que protege os neurónios, comprometendo o funcionamento dos neurónios atacados.
O revestimento de mielina que protege os neurónios ajuda a transmissão dos sinais entre o SNC e o organismo a moverem-se rapidamente ao longo dos neurónios. No entanto, quando a mielina é danificada na EM os sinais abrandam e afetam as “mensagens” ou impulsos nervosos que comandam o funcionamento do organismo. E se a mielina à volta do prolongamento dos neurónios for completamente destruída, os sinais podem ficar completamente bloqueados.
Como consequência destas alterações, surgem os sintomas de EM. E porque não é fácil de prever quando uma “mensagem” vai sofrer perturbações, também os sintomas da doença são imprevisíveis.
As alterações provocadas pela reação autoimune nos prolongamentos dos neurónios são chamadas de lesões ou placas.
As lesões (ou placas) são as áreas no SNC em que a mielina ficou danificada ou desapareceu devido à inflamação desencadeada por uma reação autoimune. Dependendo da localização das lesões, a pessoa poderá ter apenas um sintoma ou vários em simultâneo.
Há ainda lesões que podem passar despercebidas durante muito tempo (chamadas de lesões silenciosas), podendo apenas ser detetadas através da ressonância magnética.
As lesões podem ainda ser classificadas como ativas ou inativas. Através da ressonância magnética é possível verificar a atividade da esclerose múltipla e a extensão das lesões nos nervos. É possível que algumas lesões sejam reparadas pelo próprio organismo, desaparecendo nos exames subsequentes, ou ainda que haja lesões irreparáveis, algo que é também possível confirmar através da ressonância magnética.
Descubra mais sobre os exames recorrentes na EM na área dedicada ao diagnóstico.
O sistema nervoso central (SNC) controla a maior parte dos processos do organismo. Por isso, as pessoas que vivem com EM podem ter uma grande variedade de sintomas, dependendo do local afetado. Lembre-se: cada caso é diferente, sendo que duas pessoas com EM poderão não ter os mesmos sintomas. Além disso, é muito improvável que uma pessoa venha a ter todos os sintomas possíveis.
Alguns dos sintomas físicos mais comuns incluem:
• Fadiga ou cansaço extremo
• Dormência e formigueiros
• Problemas de visão
• Alterações no andar e no equilíbrio
• Fraqueza e rigidez musculares
• Dor e tremores
• Problemas na fala e na deglutição
• Alterações na bexiga e no intestino
• Disfunção sexual
Os sintomas cognitivos (associados ao raciocínio e à memória) são também frequentes na EM e podem incluir:
• Problemas de atenção
• Difícil concentração
• Dificuldade em resolver problemas
Consulte a nossa área dedicada aos sintomas da EM para conhecer os diferentes tipos em detalhe.
Apesar de a origem da esclerose múltipla não estar ainda completamente esclarecida, são muitas as áreas de investigação que continuam à procura de uma explicação. Atualmente, a comunidade científica acredita que a EM é desencadeada por uma combinação de vários fatores. É importante destacar que se pensa que estes fatores contribuem para o risco global, não tendo sido atribuída, até hoje, a origem a um só fator isolado.
• Fatores geográficos: a EM parece ocorrer mais frequentemente em zonas distantes da linha do equador. Uma possível explicação está na menor exposição solar, uma vez que foi identificada uma relação entre a esclerose múltipla e baixos níveis de vitamina D (produzida face à exposição solar);
• Vitamina D: as evidências sugerem que esta vitamina pode ter um papel importante na EM: níveis reduzidos no sangue desta vitamina são considerados um fator de risco para o desenvolvimento da doença;
• Tabagismo: sabe-se que fumar não só aumenta o risco de EM, como está associado a manifestações mais graves da doença e a uma mais rápida progressão.
• Obesidade: o historial de obesidade na infância e adolescência – especialmente no sexo feminino – parece estar associado a um maior risco de desenvolvimento de EM. Além disso, a obesidade contribui para a inflamação do organismo, podendo influenciar negativamente o quadro de quem vive com EM.
• Genética: conhecem-se hoje cerca de 200 genes associados ao risco de desenvolver EM. No entanto, cada um deles parece contribuir até certo ponto, não existindo um só gene responsável. Além disso, sabe-se que o historial familiar de EM parece contribuir para o aumento do risco, ainda que a doença não seja necessariamente herdada de pais para filhos. Veja-se o caso de gémeos idênticos: os estudos indicam que se um dos gémeos tem EM, o risco de o seu irmão vir a desenvolver a doença é de ¼. Por outro lado, o risco entre parentes diretos, que não um irmão gémeo, é inferior.
• Infeções: pensa-se que a infeção por algumas bactérias e vírus (sarampo, vírus Epstein-Barr ou pneumonia por clamídia, por exemplo) possa aumentar o risco de desenvolver EM.
Além destes fatores, sabe-se que a incidência de EM é maior nas mulheres e que o risco de surgirem os primeiros sintomas da doença é maior entre os 20 e os 40 anos (apesar de os sintomas poderem aparecer em pessoas entre os 15 e os 60 anos).
1. G. Kobelt, F. Kasteng Access to Innovative Treatments in Multiple Sclerosis in Europe. http://www.comparatorreports.se/Access%20to%20MS%20treatments%20-%20October%202009.pdf
2. WebMD. Multiple Sclerosis: What is MS? https://www.webmd.com/multiple-sclerosis/what-is-multiple-sclerosis#1
3. Multiple Sclerosis Association of America. The Immune System and Multiple Sclerosis. https://mymsaa.org/ms-information/overview/immune-system/
4. National Multiple Sclerosis Society. What is an immune-mediated disease? https://www.nationalmssociety.org/What-is-MS/Definition-of-MS/Immune-mediated-disease
5. National Multiple Sclerosis Society. The facts about MS. https://www.mssociety.org.uk/about-ms/what-is-ms/the-facts-about-ms
6. Multiple Sclerosis Trust. Lesion. https://www.mstrust.org.uk/a-z/lesion
7. National Multiple Sclerosis Society. What causes MS? https://www.nationalmssociety.org/What-is-MS/What-Causes-MS