Hoje, sabemos que a atrofia cerebral tem um grande impacto nos sintomas da EM. Passemos em revisão alguns dos principais tópicos que hoje conhecemos sobre a atrofia cerebral.
• A atrofia cerebral está relacionada com vários sintomas da EM tais como alterações da marcha, da visão, do equilíbrio, da cognição ou da fala;
• A relação entre a atrofia cerebral e os sintomas é mais comum do que parece. Mais de metade das pessoas que vivem com EM Surto-Remissão sentem que a sua capacidade física se deteriorou desde o diagnóstico, com impacto significativo nas tarefas diárias;
• A atrofia cerebral é um fator de risco para a fadiga. Esta afeta cerca de 75% das pessoas que vivem com EM e parece estar associada à disfunção cognitiva, à incapacidade física, aos distúrbios psicológicos e aos problemas de sono;
• A atrofia cerebral foi associada à disfunção cognitiva que inclui problemas como dificuldade de concentração, no pensamento, na memória, na atenção e na capacidade de resolver problemas. Mais de 50% das pessoas que vivem com EM Surto-Remissão têm dificuldades em concentrar-se, referem que a sua capacidade de processar informação diminuiu e admitem que os problemas de memória afetam o seu dia a dia. Além disso, mais de 45% dos doentes sente que tem dificuldade em tomar decisões;
• O bem-estar emocional é afetado pela atrofia cerebral. Uma percentagem significativa das pessoas que vivem com EM sofre de depressão, mesmo quando comparada com pessoas que vivem com outras condições debilitantes.
• A atrofia cerebral pode ter impacto nas relações pessoais e na vida quotidiana. As pessoas que vivem com EM e que têm sintomas como a fadiga, problemas cognitivos ou incapacidade física têm uma maior probabilidade de não conseguir emprego. Além disso, à medida que a incapacidade física vai progredindo, a proporção de pessoas desempregadas que vivem com EM aumenta significativamente. Quase um terço das pessoas que vivem com EM necessitam de assistência que, em 80% dos casos, é dada pela família e amigos.
Obter uma medição precisa da atrofia cerebral pode ser um processo muito complexo. As técnicas necessárias para obter uma análise rigorosa da atrofia cerebral precisam de ser altamente precisas e envolver análises complexas. Por esse motivo, é pouco provável que a análise da atrofia cerebral seja utilizada para avaliar a sua EM. No entanto, essa análise é utilizada em estudos que pretendem entender a própria doença.
Quando se avalia a atrofia cerebral recorre-se à ressonância magnética. Ainda que esta seja uma técnica utilizada pelos médicos para detetar a presença de lesões que aparecem como manchas brilhantes ou escuras no exame, quando é feita a análise da atrofia cerebral são usadas diferentes técnicas de ressonância magnética. Essas técnicas permitem calcular o tamanho de diferentes áreas do cérebro e a variação do seu tamanho ao longo do tempo.
É natural que o seu neurologista e/ou enfermeiro de EM considere as opções terapêuticas tendo em conta o controlo da atrofia cerebral. Existem várias terapêuticas modificadoras da doença (TMDs) que demonstraram reduzir a taxa de atrofia cerebral em doentes com EM. A atrofia cerebral pode ser algo a considerar quando se pensa na saúde global do cérebro.
Além disso, sabe-se que o cérebro continua a mudar ao longo da vida. Em resposta a problemas como a EM, o cérebro procura formas de compensar as lesões e de tentar manter as suas funções pelo que se diz que o cérebro tem neuroplasticidade. O que isto significa? Para responder à questão é preciso falar no conceito de reserva cognitiva.
O que é a reserva cognitiva?
A reserva cognitiva é a capacidade que o cérebro tem de se adaptar perante as lesões provocadas pela EM. Assim, duas pessoas podem ter o mesmo nível de lesões cerebrais sem que sintam de igual forma os sintomas da doença: têm diferentes reservas cognitivas. Este conceito ajuda também a explicar porque é que uma pessoa pode ter lesões visíveis na ressonância magnética que não se traduzem em sintomas.
É possível aumentar a reserva cognitiva?
Sim. À luz do que hoje sabemos a reserva cognitiva pode ser aumentada e mantida, mantendo o cérebro saudável e ativo. A educação, a ocupação, o exercício, a interação social e os hobbies que estimulam o intelecto aumentam a reserva cognitiva ao estimularem os neurónios a manterem-se saudáveis e flexíveis. Por outro lado, problemas como a depressão que tendem a reduzir o nível de atividade de uma pessoa podem ser negativos para a manutenção da reserva cognitiva.
Assim, procure manter uma vida ativa e com desafios regulares tanto ao nível físico como intelectual.
1. Multiple Sclerosis Trust. Cognitive reserve. https://www.mstrust.org.uk/a-z/cognitive-reserve