Quando vamos poder falar da cura da esclerose múltipla?

Quando vamos poder falar da cura da esclerose múltipla?

A esclerose múltipla (EM) não tem cura. Mas, nos últimos anos, a ciência da EM tem vindo a desenvolver medicamentos que são muito eficazes na redução da progressão da doença e no controlo dos seus sintomas. 

A investigação não pára e todos os dias se ganham novas perspetivas que nos aproximam mais dessa ideia. Para encontrar uma cura, temos de conhecer com precisão a causa, o que a faz desenvolver-se e o que protege contra o seu aparecimento. 

Isto passa por: 

•    Identificar todos os genes relacionados com a EM – para percebermos como é que é ativada e como pode ser prevenida. 
•    Identificar potenciais infeções que possam fazer com a EM surja. 
•    Entender todos os fatores de risco ambientais, isto é, externos ao corpo, que possam fazer com que uma determinada pessoa desenvolva a doença. 

Sim, é complicado. Mas o caminho faz-se caminhando. 

Progresso na identificação dos fatores de risco 

Para isso, e para que se chegue à ideia de uma cura, o estudo desses principais fatores de risco para o desenvolvimento da esclerose múltipla é fundamental. E é exatamente aí que os investigadores pensam que podem encontrar pistas que lhes permita chegar mais rapidamente à tão ambicionada cura. 

Nenhum fator é, sozinho, a causa única para o aparecimento da doença. É o conjunto de genes específicos, dos processos imunitários do organismo e do estilo de vida que faz com que a doença surja. Da mesma forma, nem todas as pessoas com EM a têm por causa de todos estes fatores. E nem todas as pessoas com algum desses fatores irá desenvolver esclerose múltipla. Parece confuso, mas saber isto é um excelente sinal de que sabemos já bastante sobre os mecanismos da doença.  

Assim sendo, será sempre o estudo de todos eles, através de várias áreas da ciência e contando com a atual compreensão do problema, que nos fará chegar a algum lado. 


Até agora, os sinais são promissores

Até agora, o conhecimento acumulado acerca do sistema imunitário tem-nos permitido desenvolver várias estratégias para o tipo mais comum de esclerose múltipla, a EM Surto-Remissão. Aqui, a ideia passa sempre por ter os surtos controlados e a não deterioração neuronal. No caso das formas de esclerose múltipla progressivas, até há bem pouco tempo não tínhamos informação suficiente sobre como funcionavam para que pudéssemos atuar em conformidade. Já não é assim. O progresso científico veio transformar a forma de atuar, que além dos surtos e da deterioração, pede um controlo da evolução da doença. 

O que já sabemos: 

Quando a bainha de mielina é danificada as mensagens transmitidas entre o resto do corpo e o cérebro e a medula espinal ficam perturbadas. Além disso, os neurónios ficam disfuncionais e a mensagem transmitida é perturbada. A chamada remielinização, ou seja, a reposição da mielina na bainha que reveste os neurónios é hoje feita para que estes voltem a funcionar e não estejam tão expostos, ajudando-os a recuperar dos ataques anteriores do sistema imunitário. 

Sabia que a partir do momento em que um neurónio é danificado não pode ser substituído? Por isso é que abrandar ou mesmo parar a progressão da EM é fundamental. Os tratamentos neuroprotetores estão, por isso mesmo, na ordem do dia. Várias estratégias aplicadas atualmente, visam estudar diferentes fármacos com esse efeito protetor, evitando assim que a doença se torne rapidamente incapacitante para o doente. 

Uma cura fantástica para a esclerose múltipla, e onde encontrá-la 
Na senda de toda esta investigação, podemos perguntar-nos: como seria a cura para a esclerose múltipla? Há atualmente 3 áreas a serem estudadas, que parecem ser bastante promissoras e podem mesmo alterar o curso da história da doença. São áreas de investigação que visam diferentes modelos de atuação. 

Como já vimos, a cura para a esclerose múltipla pode mesmo sair desta ideia de proteger os neurónios contra a sua deterioração. Algumas terapêuticas atuais, por exemplo, já parecem estabilizar os níveis de progressão da doença. Mesmo que os doentes não melhorem, pelo menos a doença não evolui. Existem novas moléculas a serem estudadas com potencial neuroprotetor, mas há já o uso de outras moléculas mais antigas que podem ter esse potencial. Foca-se ainda na manutenção de células da glia saudáveis (células associadas aos neurónios que ajudam ao seu suporte e nutrição) e ao estímulo na produção de mielina por parte das mesmas. 

Como sabemos, o cérebro e a rede de neurónios dos doentes com esclerose múltipla está mais “envelhecida”, por comparação com sua a idade real. O objetivo desta abordagem passa por melhorar a condição da pessoa com EM até a um nível em que a idade neuronal e cerebral corresponda ao número de anos de vida do doente. O potencial das células estaminais na recuperação das áreas lesionadas pode dar um grande impulso a essa intenção. 

Uma ideia para um futuro mais longínquo é a da recuperação das alterações no sistema nervoso, quer aquelas que foram causadas pela EM, quer as causadas pelo normal envelhecimento. O sistema nervoso voltaria ao seu estado inicial perfeito. Para isso, é também importante que o sistema imunitário seja modulado para não atacar o próprio organismo, espoletando outra vez o ataque que causou o problema em primeira instância.

Ainda há um longo caminho a percorrer. Mas se houve uma coisa que a ciência sempre nos ensinou é a não subestimar o seu poder. E uma coisa é certa: nunca estivemos tão perto. Esta é, de facto, a altura mais promissora do estudo da esclerose múltipla e isso, já é muito. 

1. National Multiple Sclerosis Society. Ending the Disease Forever: https://www.nationalmssociety.org/Research/Research-We-Fund/Ending-the-Disease-Forever
2. Healthline. How Close Are We to a Cure for Multiple Sclerosis?: https://www.healthline.com/health/multiple-sclerosis/new-research-treatments
3. MS Society. Is there a cure for MS?: https://www.mssociety.org.uk/about-ms/is-there-a-cure-for-ms
4. Multiple Sclerosis Trust. Cure for MS: https://www.mstrust.org.uk/a-z/cure-ms#what-would-a-cure-for-ms-look-like